As mascaradas do Pussy Riot em show não autorizado na Praça Vermelha, sob -10° C, no fim de janeiro; duas integrantes foram presas e outras duas, multadas (Foto: Divulgação / Pussy Riot) |
Em 2011, a Rússia entrou em um turbilhão político, com ondas de protestos contra o premiê Vladimir Putin e contestação popular das eleições parlamentares de 4 de dezembro. Nesse cenário, um grupo de meninas decidiu criar o 'Pussy Riot', uma banda de punk rock com integrantes "anônimas”, cujo objetivo principal é promover shows sempre ilegais, em lugares inusitados e que terminam, invariavelmente, em prisões, multas ou surras.
“O grupo foi formado no outono de 2011, motivado por uma irritação com Vladimir Putin e o presidente, Dimitri Medvedev”, conta a porta-voz do grupo, que se identifica apenas como Garadja Matveeva.
Todas só se apresentam mascaradas - com balaclavas coloridas -, usando minissaias ou vestidos curtos. Mas sempre com calças ou leggings por baixo. Afinal, a ideia é chamar atenção pela ideologia e pelos protestos, não pela sensualidade. A intenção é que elas usem suas “identidades secretas” apenas em ocasiões especiais: quando forem presas, multadas ou advertidas pelas autoridades.
E se engana quem pensa que elas se assustam com os problemas legais ou eventuais, maus-tratos e abusos. Elas já foram vítimas da truculência da polícia de Moscou, como no caso do último show, em janeiro, na Praça Vermelha.
“A única coisa que ainda não nos aconteceu foi sermos espancadas. Mas o objetivo é diminuir o medo, para que possamos mudar esse cenário político”, diz Matveeva, que é enfática ao tentar proteger sua privacidade. “Nós somos um grupo anônimo. Nossa vida pessoal nada tem a ver com o ‘Pussy Riot’, diz.
Mas, afinal, contra o quê o grupo de meninas se rebela? “Para nós, a política agressiva da União Soviética é inspiração para o governo Pútin. A situação do cidadão mudou pouco desde o fim da URSS, ainda temos paternalismo, controle e truculência”, diz a roqueira, que critica ainda a centralização do poder, as reformas na educação e saúde e a centralização política, que exclui as outras regiões, além de Moscou e São Petersburgo.
Com todo esse contexto politizado e ideológico, a música acaba ficando em segundo plano. O grupo toca um punk rock agressivo, com letras fortes, como ‘Putin Vososal’ (literalmente, Putin se mijou).
Como os concertos são sempre em locais surpresa, públicos e não-autorizados, a logística é grande. Elas têm seu equipamento, que é montado e desmontado rapidamente. Para se ter uma ideia, elas já tocaram no meio de estações de metrô, no teto de ônibus (que estavam circulando normalmente), em lojas e bares de alto luxo (sem serem convidadas, lógico) e no telhado de uma casa em frente ao local onde presos políticos eram mantidos.
“Mesmo em dias frios, como no caso da Praça Vermelha, quando a temperatura era de -10 graus, somos recebidas com calor pelo público, que aplaude, grava tudo com celulares e pede bis”, orgulha-se a jovem.
Femen
Matveeva também não se irrita com a comparação com as ucranianas do Femen, cujo modus operandi é protestar sempre de topless. Pelo contrário, ela se mostra até um pouco orgulhosa.
“Nos comparam a elas principalmente por protestarmos de forma não usual e não autorizada, coisa que poucos grupos ousam fazer. Mas, em geral, vemos pouco em comum, a não ser o fato de sermos grupos femininos”.
Sobre o futuro, o grupo mantém um certo mistério. Matveeva garante que todas estarão nos protestos contra Putin e por eleições justas, mas sempre como a paisana. “Iremos sempre, mas sem máscaras, de calças e casacos, claro. Não iremos, oficialmente, tocar. E temos muitos shows planejados, mas não vou te dizer onde."
A porta-voz não descarta a possibilidade de um dia se apresentar no Brasil. “Se nos apresentarmos aí, faremos shows ilegais, claro. E tocaríamos com quem tivesse coragem de participar deles”, afirma.
Vi no G1!
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