domingo, 30 de outubro de 2011

Pink Floyd relança discografia remasterizada com edições especiais

 São mais de 200 milhões de álbuns vendidos no mundo inteiro em quase 30 anos de carreira. E esse número deve subir mais ainda agora, com a mais completa reedição do catálogo da banda de rock britânica Pink Floyd. A coleção, que começou a ser relançada em setembro, não se restringe apenas a CDs, mas também a DVDs, blu-rays e demais formatos digitais, incluindo aplicativos para iPhone.
 
 Os mais populares e de maior vendagem, "Dark side of the moon", "Wish you were here" e "The wall", ganharam versões expandidas contendo o álbum original remasterizado, um disco com material adicional e um livreto. Além destas, os fãs poderão adquirir também as luxuosas caixas Immersion, com os álbuns mixados em 5.1, DVDs, novo material gráfico e fotos inéditas. Por enquanto, apenas "Dark side" está disponível. No próximo dia 7, é a vez de "Wish you were here" ser relançado. Já a versão de luxo de "The wall" só sairá em 27 de fevereiro do ano que vem.
 
 Simultaneamente chega ao mercado "A foot in the door – The best of Pink Floyd", uma coletânea com as canções mais conhecidas de todas as fases da banda reunidas pela primeira vez em um único álbum.
Confira os 14 discos de estúdio que integram o pacote de relançamentos:

"THE PIPER AT THE GATES OF DOWN" (1967)
 Definido por Paul McCartney como um “nocaute”, na época de seu lançamento, “The piper at the gates of down” marca a estreia do Pink Floyd em disco. Concebido e composto quase que inteiramente por Syd Barrett (autor de 8 das 11 canções e coautor das demais), o álbum traz faixas psicodélicas e pop ao mesmo tempo, num clima de ficção científica e experimentação. Guitarras estridentes, teclados perturbadores e muitos efeitos sonoros contribuem para a atmosfera alucinógena do disco, enquanto Syd canta sobre espantalhos (“The scarecrow”), gnomos (“The gnome”), animais (“Lucifer sam”) e I-Ching (“Chapter 24”). Com quase 10 minutos, a instrumental “Interstellar overdrive” é pontuada por um dos riffs de guitarra mais 
conhecidos da discografia da banda

"A SAUCERFUL OF SECRETS" (1968)
 Por conta do uso abusivo de drogas, Syd passa a se comportar de maneira cada vez mais esquizofrênica, o que torna sua permanência na banda insustentável. Seu estado mental, porém, não impediu sua participação em três faixas do álbum: "Remember a day", "Set the controls for the heart of the sun" e "Jugband blues", esta última de sua autoria. David Gilmour é recrutado para seu lugar, o que faz com que a banda funcione como um quinteto na antibélica "Corporal clegg" e "Remember a day". É um disco sombrio, depressivo, talvez reflexo das circunstâncias em que Barrett se encontrava e do momento de transição pelo qual a banda atravessava. Mas tais características iriam mapear a obra do Pink Floyd daí por diante.


"MORE" (1969)
 Trilha sonora do filme homônimo dirigido por Barbet Schroeder, "More" foi o primeiro álbum com o que posteriormente seria considerada a "formação clássica" da banda: Roger Waters, Richard Wright, David Gilmour e Nick Mason. Gravado em pouco mais de uma semana, o repertório inclui passagens instrumentais centradas nos teclados de Wright ("Quicksilver" e "Main theme") e canções compostas por Waters (como "Green is the colour" e "Cirrus minor"), além da primeira música solo de Gilmour (a flamenca "A spanish piece"). Uma sonoridade folk e country se mistura a canções mais pesadas, com guitarras sujas e letras soturnas, como em "The Nile song", que descreve a aparição de um assustador espectro feminino às margens do Rio Nilo ("Ela está chamando das profundezas / "Invocando minha alma para o sono eterno" / "Ela está obcecada em me puxar para baixo" / "Puxar para baixo").

"UMMAGUMMA" (1969)
 Primeiro álbum duplo do Pink Floyd, "Ummagumma" traz um disco ao vivo e um de estúdio. Gravado em shows no The Mother's Club em Birmingham, no dia 27 de abril de 1969, e no Manchester College of Commerce, em 2 de maio, o primeiro traz versões extendidas e ainda mais psicodélicas para "Astronomy domine", "Careful with that axe, Eugene", "Set the controls for the heart of the sun" e "A saucerful of secrets". O segundo reúne longas experimentações solo dos integrantes da banda (cada faixa tem uma média de 10 minutos de duração), com resultados distintos. A cansativa "The grand vizier's garden party", de Nick Mason, tem Lidy, a esposa do baterista, na flauta. Waters contribui com a acústica "Grantchester meadows" e a bizarra "Several species of small furry animals gathered together in a cave and grooving with a pict", esta última uma sequência assustadora de efeitos sonoros que esconde uma mensagem "secreta". Lá pelos quatro minutos e meio de execução, é possível ouvir o baixista dizendo: "That was pretty avant-garde, wasn't it?" ("Isso foi bem vanguarda, não?"). Anos mais tarde, Mason reconheceria: "Trabalhamos ligeiramente melhor de maneira coletiva".

"ATOM HEART MOTHER" (1970)
 Conhecido como "o disco da vaca", foi o primeiro na carreira da banda a chegar ao topo das paradas britânicas. Contou com a colaboração do britânico Ron Geesin, músico que sugeriu a suíte que dá nome ao álbum. Subdividida em seis atos, como uma grande peça clássica, ocupava todo o lado A do vinil com seus quase 24 minutos de duração. Foi gravada com uma orquestra sinfônica completa, incluindo um coral de 20 pessoas regido pelo maestro John Alldis. No lado B, outras quatro faixas, duas delas com belas contribuições de Gilmour na guitarra: a quase acústica "If", de Waters; e a balada "Fat old sun", do próprio Gilmour, canção que voltaria a tocar mais recentemente em alguns de seus shows solo. Richard Wright colabora com a pequena obra-prima "Summer of ’68", com um marcante riff de piano e a participação da mesma orquestra presente na faixa-título. Encerra o álbum outra epopeia sonora, a conceitual “Alan's psichedelic breakfast”, em homenagem ao roadie do grupo, Alan Stiles. É uma música estranha, pontuada pelos sons pitorescos de um típico café da manhã, como o tilintar de xícaras, bacons numa frigideira e o solfejar de uma canção durante a mastigação da comida.

"MEDDLE" (1971)
 Considerado pelos fãs um dos melhores álbuns da banda, “Meddle” já surpreende pela capa: o close de uma orelha, talvez simbolizando as diferentes texturas sonoras presentes no disco. A primeira faixa, “One of these days”, traz o baixo de Waters reverberando hipnoticamente enquanto Gilmour passeia pela escala da guitarra com um slide, num total clima de improviso, sugerindo que a canção tenha sido composta durante uma jam session. O repertório segue com um pouco de tudo: tem a bucólica “Pillow of winds”, o quase-hino “Fearless” (que conta com um coro da torcida do time de futebol inglês Liverpool) e a jazzística “San Tropez”, que destoa das demais composições por seu clima descontraído e "feliz". No vinil, o lado A se encerra com o blues "Seamus", que traz os uivos e latidos de um cachorro (!!!). Uma vez mais a banda ocuparia todo o lado de um álbum com uma única canção: a obra-prima "Echoes", que curiosamente tem início com um ruído que lembra um sonar de submarino. Com seus quase 23 minutos e meio de duração, alterna clímax e anticlímax, além de diferentes andamentos cuidadosamente emendados. "Meddle" é o primeiro disco em que as guitarras de Gilmour soam mais destacadas e sua contribuição musical para o grupo se manifesta mais claramente.

"OBSCURED BY CLOUDS" (1972)
 Segunda trilha sonora gravada pela banda, composta para o filme “La valeé”, de Barbet Schroeder, o nome deste álbum não poderia ser mais adequado: obscuro, foge às composições sofisticadas do predecessor e do lirismo do sucessor, trazendo o grupo de volta às composições simples, de curta duração e de sonoridade mais tradicional, com um ótimo resultado. Não faltam boas canções e texturas floydianas, adequadas ao clima hippie do filme. Baladas agradáveis recheadas de violões, como “Wot’s... uh the deal” e “Free four”, que se contrapõem às instrumentais climáticas “Mudmen” e “Absolutely curtains”, tornam esse álbum, se não indispensável, um bom exemplo de como uma trilha pode tornar-se mais célebre que o próprio filme. Wright canta solo em duas faixas "Burning bridges" e "Stay"), enquanto Gilmour contribui com "Childhood's end", composição própria com um caprichadíssimo solo de guitarra.

"DARK SIDE OF THE MOON" (1973)
 O preferido de 8 entre 10 fãs da banda, "Dark side" (como é popularmente conhecido) catapultou o Pink Floyd para o estrelato. Com temas como solidão, loucura e morte, o disco é uma viagem através dos "fantasmas do homem moderno" embalada por texturas sonoras das mais variadas. Há efeitos espalhados por quase todas as faixas, como na instrumental e imprevisível "On the run" e em "Money", um quase blues onde brilham a antológica linha de baixo de Waters e a guitarra incendiária de Gilmour. David, aliás, tem aqui um desempeho inspirado no instrumento, seja fazendo o clima em "Breath" e "Any colour you like" ou solando em "Time". Mas talvez a canção que mais chame a atenção seja “The great gig in the sky”, composta a partir de uma sequência de acordes jazzísticos de Richard Wrigt e finalizada com vocal sofrido da cantora Claire Torry. "Brain damage" e "Eclipse" fecham o álbum, em mais uma referência explícita a Syd Barret. Tornou-se o primeiro álbum do Pink Floyd a alcançar o topo das paradas norte-americanas, permanecendo nas paradas por 741 semanas entre 1973 e 1988. Está entre os cinco discos mais vendidos do mundo.

Versão Experience — contém o álbum original digitalmente remasterizado; o CD bônus e inédito "Live at The Empire Pool, Wembley, London 1974“ com o disco ao vivo, executado na íntegra; embalagem digipak, com um novo livreto de 16 páginas desenhadas por Storm Thorgerson, com todas as letras.

Versão Immersion (3 CDs + 2 DVD + 1 blu-ray) — além dos álbuns remasterizado e ao vivo, os CDs trazem a primeira mixagem feita em 1972 (incluindo as inéditas "The travel sequence" e "The morality sequence" e uma versão ao vivo para "Any colour you like"). Já os DVDs e o blu-ray têm o álbum em três formas de mixagem: 5.1 Surround Mix; Mix Quad e em Mix PCM Stereo. "Careful with that axe, Eugene" e "Set the controls for the heart of the sun" aparecem em vídeo, gravadas ao vivo em Brighton, em 1972, bem como um documentário sobre a produção do disco e sequências de imagens editadas exclusivamente para serem exibidas durante as músicas na turnê. Um livreto de 40 páginas, com fotografias originais editadas por Jill Furmanovsky, também acompanha o pacote.

"WISH YOU WERE HERE" (1975)
Dois anos depois do retumbante sucesso do “Dark side of the moon”, Waters, Mason, Gilmour e Wright gravam outro álbum conceitual, desta vez declaradamente em tributo ao amigo e fundador da banda, Syd Barrett. Fazendo novas elegias à loucura e criticando o mundo do showbizz, “Wish you were here” tem em “Shine on you crazy diamond” sua grande "viagem": outra grande suíte dividida em vários movimentos, na linha do que já haviam feito em "Atom heart mother". Perfeitamente gravada e executada, abre espaço para todos os instrumentos brilharem. Seria a canção escolhida para abrir quase todos os shows do grupo dali por diante. Sozinho, Waters contribui com a sintetizada “Welcome to the machine”, além do rock de levada suingada “Have a cigar”, que conta com os vocais do amigo e ídolo da banda Roy Harper, única participação de um músico consagrado em álbuns da banda (Clare Torry já havia gravado “The great gig in the sky” no álbum anterior apenas como uma cantora contratada). “Wish you were here”, que batiza o álbum, completa o toque açucarado do álbum. Ainda hoje sucesso absoluto em bares e rodinhas de violão.

"ANIMALS" (1977)
Após dois grandes sucessos de vendas e crítica, o Pink Floyd é agora uma banda mundialmente famosa, permiitindo a seus integrantes certas extravagâncias. O exemplo mais ilustrativo dessa "empolgação" é a provocadora capa de "Animals", que traz a fotografia de um porco voando sobre a central elétrica de Battersea, em Londres. Mas o que parece montagem é real: um porco plástico foi inflado com gás hélio e amarrado próximo à central para que fosse feita a foto (com o vento, foi levado para léguas de distância do local, quase provocando um acidente). Musicalmente, o disco rompe com a melancolia que marca a discografia do grupo e coloca Waters definitivamente como a força motriz e criativa da banda. Ele divide a sociedade em três classes sociais formadas por bichos ("porcos", "cães" e "carneiros") e retrata cada uma delas em canções longas, cheias de variações entre andamentos acelerados e midtempos, e letras niilistas. O álbum abre e fecha com “Pigs on the wing”, duas pequenas baladas acústicas (que haviam sido gravadas como uma, com um solo entre as partes, e depois dividida em duas para a versão final do disco). De resto, três grandes canções longas e agressivas, tocadas com vontade, no melhor estilo rock ’n roll. Apesar de Waters ser o autor de todas as canções, quem brilha é David Gilmour: com solos compridos e memoráveis, o guitarrista faz do álbum a melhor representação de estúdio de seu talento entre toda a discografia do Pink Floyd.

"THE WALL" (1979)
Com a banda cada vez submissa ao ego inflado do baixista Roger Waters, o Pink Floyd chega a seu projeto mais ambicioso: um álbum duplo e novamente conceitual, contando as mazelas de um rock star decadente chamado Pink, assombrado pela morte do pai na guerra. A ópera-rock discorre sobre solidão e censura em quase uma hora e meia de uma costura irregular de canções. Apesar de sua importância visual (a banda saiu em turnê com um espetáculo grandioso, onde o gigantesco muro do título era construído e derrubado em pleno palco), de grandes singles, como "Another brick in the wall - Part II" e "In the flesh", e canções menos convencionais, como "The trial", o álbum carece de unidade e peca no que sempre foi a maior força da banda: a criação coletiva. Com Wright limitando-se a um papel coadjuvante e Gilmour assinando apenas "Young lust", "Run Like Hell" e "Comfortably numb" (esta última com solos de guitarra antológicos), de um total de 26 canções, “The wall” notabiliza-se pela megalomania de Waters, que acabaria por ser a faísca da futura separação da banda. Apesar de sua irregularidade, é o último registro importante da formação mais conhecida do Floyd. Originou o filme "Pink Floyd - The wall", dirigido por Alan Parker e estrelado por Bob Geldof em 1982.

"THE FINAL CUT" (1983)
Como o próprio nome sugere, trata-se de um "corte final" na trajetória da banda. Aqui, o Pink Floyd vira um trio — Richard Wright foi expulso logo após a turnê de "The wall" —, com Mason e Gilmour praticamente relegados a músicos de estúdio a serviço das canções integralmente compostas por Roger Waters (o disco traz a mensagem "Uma obra de Roger Waters, executado por Pink Floyd" na capa). Nas letras, o baixista mostra sua incapacidade de superar a perda do pai, morto em 1944, na Itália, durante a Batalha de Anzio, uma das mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial. A política externa da então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e a Guerra das Malvinas também são assuntos recorrentes no álbum. Musicalmente é devagar, triste e claustrofóbico. Conta com arranjos orquestrados e bons momentos de Gilmour na guitarra ("Possible pasts" e a faixa-título são bons exemplos). A sequência "The gunners dream", "The final cut", "Not now John" e "The Fletcher memorial home" renderia um EP e um média-metragem. Uma curiosidade: a faixa "When the tigers broke free" só seria incluída no álbum numa reedição lançada nos anos 2000.

"A MOMENTARY LAPSE OF REASON" (1987)
Dois anos depois da saída de Roger Waters da banda, David Gilmour e Nick Mason decidem gravar um novo álbum sob o nome Pink Floyd. Numa tentativa desesperada de impedir a reunião, Waters dá início a uma agressiva batalha judicial pelos direitos de uso do nome do grupo, mas sem sucesso. Sai então "A momentary lapse of reason", praticamente um disco solo de Gilmour que marca o retorno de Richard Wright a bordo, mas apenas como músico contratado (no papel, para efeitos contratuais, a banda passa a ser formada só por Gilmour e Mason). Com isso, o Pink Floyd adquire uma sonoridade mais pop, radiofônica, com quase todas as canções construídas sobre as (ótimas) guitarras e os vocais de Gilmour — é dele todas as músicas do álbum, com eventuais parcerias. Baladas como "On the turning away", "Yet another movie" e "Sorrow" dão um tom melancólico ao álbum, produzido sob a estética sonora característica dos anos 80 (efeitos, ecos e repetições desnecessárias). Originou o álbum ao vivo e o home video "The delicate sound of thunder", registrados durante a bem sucedida turnê mundial da banda entre 1987 e 1990.

"THE DIVISON BELL" (1994)
Último álbum de estúdio da banda, tem como temática principal a falta de comunicação, a começar pela referência do título: o Sino da Divisão costuma soar no parlamento inglês sempre que um assunto provoca discordância, apontando a necessidade de uma votação. Apesar deste detalhe, musicalmente a banda parece bem mais integrada do que o álbum anterior. David Gilmour centraliza produção e arranjos, mas divide boa parte das composições com Richard Wright — além da autoria, é do tecladista o vocal principal de "Wearing the inside out". As instrumentais "Cluster one" (que abre o disco) e "Marooned" (esta com belíssimos solos de Gilmour) se alternam com faixas mais pop, caso de "Take t back", e baladas, como "Coming back to life" (que o guitarrista fez em homenagem à então namorada e agora esposa, Polly Samson). A parte final se destaca com a climática "Keep talking", que conta a participação do físico Stephen Hawking; a acústica "Lost for words", com uma melodia semelhante à "Guita", de Raul Seixas; e "High hopes". A última e mais longa canção do álbum (tem oito minutos e meio de duração) é uma espécie de registro autobiográfico de Gilmour, que reflete sobre sua juventude, perdas e ganhos. Um extenso, melódico e inspiradíssimo solo de guitarra final marca o fim do álbum e fecha a discografia oficial de estúdio do grupo. O Pink Floyd sairia em turnê mundial uma última vez e lançaria o CD e home video ao vivo "Pulse", tirados de shows daquela época.

Vi no G1!

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